sexta-feira, 28 de outubro de 2011

9 FESTIVAL DE TEATRO DE RUA DO RECIFE e MOVIMENTO ESCAMBO LIVRE DE RUA


A partir da próxima quinta-feira, 9º Festival de Teatro de Rua do Recife vai discutir a arte pública, reunindo representantes de vários estados do Brasil e convidados da Argentina

Para entrevistas: Jailson Oliveira (8519 9158), Leonardo Soares (8864 3873) ou Ivo Rodrigues (9934 4338), coordenadores do evento.

Há um segmento teatral em Pernambuco que vai às ruas e, literalmente, é da rua. Não só em sua estética, mas nos temas que aborda e, principalmente, nos elementos que compõem cada equipe, oriundos de bairros periféricos do Recife e Olinda. Isso se levarmos em conta que artistas populares, aqueles que vêm literalmente do povo, sempre se fizeram presentes nas ruas, seu palco de origem. Essa relação é bem diferente quando um grupo de “teatro de caixa”, ou seja, das casas de espetáculos, se propõe a montar uma peça na rua. É uma ocupação momentânea, sem verdadeira identidade com esta linguagem. Pelo menos é isso o que defendem os artistas do teatro popular de rua em Pernambuco.

Muitos deles estarão aqui reunidos a partir desta quinta, dia 10 e até 15 de novembro, quando começa o 9º Festival de Teatro de Rua do Recife, trocando experiências com companheiros de outras regiões do Nordeste (Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão), além de convidados do Espírito Santo, São Paulo e Argentina. Todos integram uma importante iniciativa dos teatreiros de rua, músicos e poetas cênicos, o Movimento Popular Escambo Livre de Rua, que comemora seus 20 anos de atividade e, traz a Pernambuco, pela primeira vez, um encontro de seus participantes, que parte dessa ideia da troca, o Escambo Popular Livre de Rua em sua 32ª versão.

* Escambo define troca sem o uso do dinheiro: um produto por outro. É o que estão fazendo grupos de artistas brasileiros que se reuniram para "trocar arte". Um movimento iniciado há 20 anos em Janduís, no Rio Grande do Norte, e que reúne principalmente grupos de teatro de rua, além de músicos, poetas e artistas ligados a folguedos populares, inclusive da Argentina. O Escambo é palco para artistas dividirem suas experiências, somando algo novo, enriquecedor, entre si e o povo que assiste.

Toda a ação é promovida pelo Movimento de Teatro Popular de Pernambuco (MTP/PE), desta vez em parceria com a Associação de Teatro de Olinda (ATO) e o Movimento Popular Escambo Livre de Rua, liderado pelo quase “guru”, Junio Santos, cearense de 56 anos de idade, cenopoeta, ator, facilitador cênico, dramaturgo, repentista e cordelista, e o paraibano Ray Lima, também ator, cenopoeta, educador, arranjador e facilitador de vivências cenopoéticas, duas figuras importantes na construção e sedimentação de políticas públicas e processos de cidadania da cultura em todo o Brasil. A organização do evento espera ainda contar com o apoio do poder público estadual, até porque, até agora, apenas a Prefeitura do Recife prometeu uma pequena ajuda financeira. Mais de 200 artistas estarão aqui instalados. Várias ações serão propostas, como espetáculos, intervenções urbanas e discussões, tendo como tema “Políticas Públicas Para a Arte e a Cultura”.

O objetivo é abordar, entre outros temas, a valorização do artista local e, especificamente, do artista popular (aquele que vai às ruas se apresentar e não vive de bilheteria. Mas como sobreviver da sua arte?), a liberdade de expressão (em alguns lugares do Brasil, esse direito tem sido esquecido e artistas proibidos de se apresentar em espaços públicos), os investimentos possíveis e a necessidade de políticas específicas para as artes públicas. Toda a programação gratuita terá como foco principal o bairro do Alto José do Pinho (objetivando mudar um pouco a realidade daquela área), mas também com irradiações para a Guabiraba, Beberibe e Morro da Conceição, no Recife, incluindo o centro da cidade, com cortejo comemorativo; além de Jatobá e Ilha do Maruin, em Olinda. Além da abertura contar com várias formas de exposição das artes visuais, um dos destaques é a presença do “Escambar”, um ponto de encontro para performances teatrais, de poesia, música e exibição de vídeos.

Informações: www.movimentodeteatropopulardepernambuco.blogspot.com ou 8864 3873.
Programação:

10 de novembro (quinta-feira)
20h – Espaço Cultural Poesis – Movimento Cultural do Alto José do Pinho (Rua Vespasiano, 107. Tel. 3304 6451):
Exibição de vídeos do MTP/PE, Ato e Escambo;
Exposição plástica de artistas do Alto José do Pinho: Max di Castro; Wilson Elias da Mota (Pipo), Primo, Soninha e Rodrigo Bartô/PE;
Exposição iconográfica sobre o Alto José do Pinho: Simão e Associação dos Amigos do Alto José do Pinho/PE;
Exposição plural: Jailson de Oliveira/PE;
Exposição de Adereços de Maracatu: Maracatu Nação Pici/CE;
Exposição “Figurinos e Otras Cositas Mas”, com o artista plástico Cleidson Catarina/CE;
Exposição Subvercine de Fotografia: “Quem é da Rua Saia Pra Rua”/CE.

11 de novembro (sexta-feira)
Espaço Cultural Poesis – Movimento Cultural do Alto José do Pinho:
19h – Cortejo Político Performático Ritualístico Músico Teatral – Limpeza Ética das Ruas do Alto José do Pinho, com participação de Black na Lata, Jair da Percussão, Alto Tocando, Orquestra de Apitos e espetáculo “TAGUAMA”, do Grupo de Teatro Popular Vem Cá Vem Vê/PE;
21h – Ocupação da Escola Estadual Maria Tereza e preparação coletiva desse espaço;
22h – “Escambar” no Abacateiro-Bar.

12 de novembro (sábado)
9h30 – Plenária de abertura do Festival-Escambo, com dinâmica de troca afetiva, acordo de convivência e formação das comissões
15h – Apresentações no Morro da Conceição (Ato Cenopoético Desafio de Repente, com os grupos Bando La Trupe/RN, Cervantes do Brasil/RN e CE e Pintou Melodia na Poesia/RN e CE, Poesis – Grupo Cultural do Alto José do Pinho/PE, com o espetáculo “O Gesto da Poética Contra o Genocídio Diário” e Cia. Tapete Criações Cênicas e Trupe Circuluz/MA e PE, com o espetáculo “Circuluz Brincante”) e na Guabiraba (Amanhã Eu Digo o Nome /PE, com o espetáculo “Chapeuzinho Moderno” e Companhia Circo Teatro Capixaba/ES, com o espetáculo “O Drama de Orfeu”);
19h – Apresentações no Alto José do Pinho (Ifhá Radhá de Art’ Negra/PE, com o espetáculo “Exaltação à Negritude”; Grupo Muc’Arte/CE, com o espetáculo “Os Saltimbancos”; e Escambo/RN, com o espetáculo “Casaco de Urdemales”);
22h – “Escambar” no Abacateiro-Bar, com os grupos Oco do Mundo/CE, com a performance “Dez Troços na Rua, Poesia e Música”; e Subvercine/CE, com a exibição de vídeos “Sub-ver-cine”.

13 de novembro (domingo)
10h – Atividades coletivas (conversa, oficinas, dinâmicas, músicas, etc.) na Escola Estadual Maria Tereza;
15h – Apresentação em Beberibe (Companhia Cultural Ciranduís/RN, com o espetáculo “O Fuxiqueiro”; Coletivo Muquifo/CE, com a intervenção “Côcadaboa”; e Cia. Arte e Ação de Messias Targino/RN, com o espetáculo “Opressão Com a Vovó”);
199h – Apresentações no Alto José do Pinho (Arteiros/PE, com o espetáculo “O Boi às Avessas”, Cia. Arte e Riso de Umarizal/RN, com o espetáculo “Quem Aposta Come Brocha” e Drão/PE, com o espetáculo “A Quase Morte de Zé Malandro”);
22h – Saída do Alto José do Pinho para o Galpão dos Sonhos, em Olinda. Lá, “Escambar”, com Cangaias/CE, com a performance “Cangaias na Rua, Poesia e Música”.

14 de novembro (segunda feira)
10h – Apresentação na Ilha do Maruin (Circo Além da Lona/SP, com o espetáculo “Ave Rua, Chapéu e Gargalhadas”; e Coletivo Muquifo/CE, com o espetáculo “Boi Larica” );
15h – Cortejo no Centro do Recife com concentração na Praça do Carmo (participação de todos os grupos, do Maracatu Nação Pici/CE e da Cia. Arte e Riso de Umarizal/RN, com o espetáculo “O Machismo Só Dá Nisso”);
19h30 – Apresentações no Jatobá, em Olinda (Gaio – Grupo de Artistas Independentes de Olinda, com o espetáculo “De Artista e Louco Todo Mundo Tem um Pouco”; a companhia Pato Mojado Teatro y Circo/Argentina, com o espetáculo “Patologias”; e Cordão do Ancuri/CE, com teatro de bonecos);
22h – “Escambar” no Abacateiro-Bar, com os grupos Pajearte/CE, com performances de poesia e cordel, além do grupo Utopia/CE, com a performance “Daqui Não Saio Daqui Ninguém Me Tira”.

15 de novembro (terça-feira)
10h – Plenária final na Escola Estadual Maria Tereza;
18h – Encerramento com participação de todos os grupos.

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Detalhes sobre alguns espetáculos da programação:

“TAGUAMA” (escrito em letras maiúsculas), do Grupo de Teatro Popular Vem Cá Vem Vê (PE)
Texto: Zezo Oliveira, com adaptação do próprio Grupo de Teatro Popular Vem Cá Vem Vê. Direção: Fátima Pontes. No elenco, Alexandre Menezes, Charles Medeiros, Fábio Cavalcanti, Ana Paula Cordeiro, Andreza Cavalcanti, Jonatas Lima, Rodrigo Torres, Cleiton Orman, Igor Amaral, Kamila Leão e Lucas José. Em tupi-guarani, a palavra TAGUAMA – escrita em maiúsculo nesta montagem – significa “futura comunidade”. Com bom humor, a peça propõe uma reflexão sobre os lixos produzidos na sociedade (dos residuais aos que vêm da mente do indivíduo), as graves consequências negativas do aquecimento global para o mundo e a necessidade urgente da educação ambiental. A montagem existe desde 2004 e o Grupo de Teatro Popular Vem Cá Vem Vê orgulha-se de ser o mais antigo grupo de teatro de rua de Pernambuco ainda em atividade, desde 1980, oriundo de Casa Amarela.

“Circuluz Brincante”, com a Cia. Tapete Criações Cênicas e Trupe Circuluz (MA e PE)
Em atividade desde 2009, neste solo da atriz Raquel Franco, ele vive a Palhaça Keke Kerubina, num misto de circo e teatro de rua. O espetáculo explora o círculo como local do teatro e do circo, do ritual e do encontro, com partículas de brincadeira, riso e absurdo em números de malabarismo, acrobacia área no tecido, utilizando a dança e a dramaturgia popular maranhense. Em 2010, a montagem recebeu o Prêmio Myriam Muniz de Teatro que possibilitou uma circulação por vários municípios do Maranhão. Assim, deu início ao projeto Kombinarte, onde em uma Kombi, que hoje também é uma palhaça de quatro rodas, a “mamadeira”, viaja pelo Maranhão e, desde setembro de 2010, uma breve itinerância em algumas mostras e festivais em Pernambuco. A composição cênica-dramatúrgica é da própria atriz, que conta ainda com o apoio do pernambucano Iure Olinda na sonoplastia.

“O Drama de Orfeu”, com a Companhia Circo Teatro Capixaba (ES)
Uma encantadora história de amor, inspirada na mitologia grega, com participação dos artistas Willian Rodrigues, Ananda Rasuck, Flavinho do Caparaó e Clara Esgario. Envolta numa atmosfera de magia, a narrativa mostra a busca incondicional e incessante de Orfeu por sua amada Eurídice, tentando resgatá-la do Mundo dos Mortos, desafia a fatalidade e os perigos, atualiza um sentido de superação e re-significação poética da vida, onde o homem, mesmo diante de sua fragilidade e perenidade, busca sempre transformar seu destino. É um drama épico na rua, através de uma linguagem contemporânea que abre sorrisos e faz surgir lágrimas por toda parte. Direção: Ligia Veiga (Grande Cia de Mystérios e Novidades, RJ). Pesquisa de criação: Willian Rodrigues e Ananda Rasuck.

“Patologias”, com a companhia Pato Mojado Teatro y Circo (Argentina)
Um espetáculo de humor para todo público, com música ao vivo, palhaços e acrobacia. Segundo eles, trata-se de “uma divertida comédia circense para crianças e adultos, animais e vegetais, robôs, marcianos e publico em geral.” No enredo, Eulogio é um homenzinho desequilibrado que conduz uma engraçada história de amor com Rosaura, uma menina mimada e desalinhada. O romance se desenrola com palhaçadas e palhaçadas. Neste duo de delirantes andarilhos, se soma Ismael, o maestro, que com suas músicas deixará o publico boquiaberto, utilizando-se de um repertório próprio e de musicas clássicas. Este “pato” é capaz de derreter as calotas polares com seu brilhantismo melódico. E ainda tem: O grande número das bolas de fogo, a história do super-herói que nunca poderia ser um e a história lendária da Catalina. São apenas algumas das patologias que se apresentam em cada espetáculo. Os patos se armaram do passaporte das máscaras, dos jogos, da perna de pau, da magia do circo e do teatro para tecer e desvendar cenas, para viajar com o público em divertido espetáculo para toda família. No elenco, artistas da cidade de Rosário, na Argentina, María Franchi e César Artero, com participação do músico Alejo Castillo. A companhia Pato Mojado foi fundada para divulgar e redescobrir o trabalho de rua, a partir de uma variedade de estéticas e formas, bem como, para investigar na prática e na teoria o universo amplo do Humor. Desde 2004 tem tido a oportunidade de trabalhar com diversos artistas em diferentes cidades e países, em lugares públicos, privados e instituições.

“O Machismo Só Dá Nisso”, da Cia. Arte e Riso de Umarizal (RN)
Texto em Literatura de Cordel, de Joelson de Souto, com adaptação, montagem e produção livre da Cia. Arte e Riso. No elenco, Widenny Duarte, Rose Oliver e Gardênia Lopes. A história parte do preconceito que muitas pessoas ainda têm em relação a posição da mulher na sociedade, já que muitos homens ainda acreditam que a mulher é o sexo frágil da relação. Cômico, o espetáculo aposta em papéis invertidos: mulheres fazem homens e homens, as mulheres. A montagem mostra o outro lado dessa concepção, trazendo a mulher como a autoritária e dona da última palavra da casa. Por isso esse nome.

“Quem Aposta Come Brocha”, da Cia. Arte Riso de Umarizal (RN)
Espetáculo montado a partir da pesquisa com palhaços populares. A estrutura cênica é baseada em quadros de palhaços populares, tendo com foco as “apostas” desenvolvidas por dois palhaços que protagonizam erros e acertos, ganhos e perdas, um problema social (apostas) muito existente em cidades do interior. Como muita irreverência, e por vício e sobrevivência, os palhaços apostam até as roupas do corpo! No elenco, Emanuel Coringa (Palhaço Lombriga), Jardeu Amorim (Palhaço Gravatinha), Léo Alves (Palhaço Ruivão) e Joelson de Souto (Palhaço Algaroba e músico).

“O Boi às Avessas”, com o Grupo Arteiros (Olinda)
Texto e direção coletiva. No elenco, Leonardo Soares, Roberta Lúcia, Lucas José e Ivo Rodrigues. A divertida figura do Mateus, personagem do bumba-meu-boi, aqui representando a figura do palhaço na rua, revive manifestações da cultura popular como o Pastoril com suas pastoras, o Maracatu com seus caboclos de lança, o próprio teatro popular e as músicas do cancioneiro pernambucano. A confusão começa quando ele tem que atender a um desejo transloucado de Catirina, sua mulher: comer a língua do Véio do Pastoril! Com música ao vivo e abusando do humor, a peça busca uma reflexão sobre a atual situação dos artistas populares frente à globalização mundial e a importância de se manter viva nossas tradições mais autênticas.

“Exaltação à Negritude”, com o Ifhá Radhá de Art’ Negra (Olinda)
O espetáculo foca situações históricas do negro na busca da ascensão social e cultural, colocando pontos de reflexões sobre as condições da população negra hoje, em função do direito ao trabalho e educação de boa qualidade. Perpetuando referências negras como Zumbi dos Palmares, Dona Santa, Malunguinho e o poeta pernambucano Solano Trindade, aspectos de homens e mulheres guerreiras, o espetáculo faz um libelo contra todas as formas de racismo e opressão. De forma lúdica, o racismo é abordado e faz a seguinte interrogação: Onde você guarda o seu racismo? No elenco, Leonardo Soares, Roberta Lúcia, Lucas José, Ivo Rodrigues, Wagner Matias, Adriana Correia, Paula Alves e Wanessa Kelly.

“Chapeuzinho Moderno”, com o Grupo de Teatro Amanhã Eu Digo o Nome (Olinda)
Texto: Aldenita Pereira. Adaptação: Ronaldo Quirino. Direção: coletiva. No enredo, nada dos contos de fadas, o espetáculo aborda os dramas das famílias brasileiras que sobrevivem milagrosamente do Programa Bolsa-Família. A montagem toca em temas como o alto custo de vida e os perigos da internet. No elenco, Emerson Diniz, Alessandro do Nascimento, Keirollayne Ticyanne e Ronaldo Quirino.

Agradeço a divulgação! Leidson Ferraz (81) 3222 0025 / 9292 1316.